domingo, 11 de janeiro de 2015

#JeSuisCharlie (ou #JeNeSuisPasCharlie)


Na última quarta-feira, o mundo ficou chocado com uma atrocidade ocorrida na França. Três muçulmanos entraram na sede da revista satírica Charlie Hebdo, em Paris, e mataram doze pessoas. Entre os mortos, o editor Stéphane Charbonnier (Charb), o vice-editor Bernard Maris e os cartunistas Georges Wolinski, Bernard Verlhac (Tignous) e Jean Cabu. O crime? Fazer caricaturas de Maomé. Além deles, os policiais Franck Brinsolaro e Ahmed Merabet, este último, também muçulmano.

As mortes de Wolinski, Tignous e Cabu nos remetem à uma simples pergunta: vale à pena morrer em nome da liberdade? É sabido desde os últimos dias que as charges da Charlie Hebdo nunca foram "bonitinhas". Muito pelo contrário. Bento XVI, à época de sua renúncia, foi alvo das canetas da revista. O próprio Jesus Cristo também foi protagonista dos lápis de Wolinski, Tignous e Cabu. Mas os cartunistas tinham um certo prazer, digamos assim, em desenhar Maomé, e pagaram com a própria vida por isso.

O atentado à Charlie repercutiu no mundo inteiro. Mas aqui no Brasil, parece que esfriou um pouquinho. Cartunistas com um certo viés ideológico de esquerda, como Carlos Latuff e Laerte Coutinho, deram suas opiniões sobre o atentado. E adivinhem só quem eles culparam, em potencial? Pois é. A chamada "extrema direita", "fascista, reacionária, burguesa, exploradora, paulista" e o escambau.

Na Globo News, Arlene Clemesha, professora de História Árabe na Universidade de São Paulo (USP) comentou sobre o assunto. No jornal O Globo, um professor do Instituto de Relações Internacionais falou sobre o assunto. E quem foi o principal alvo? A "extrema direita". Todos, a uma só voz, disseram que o atentado faria com que "a direita adotasse ainda mais a xenofobia e a islamofobia". Clemesha foi ainda mais além. Disse, em linhas gerais, que a revista, com suas publicações, atacou a dignidade de um povo, e que o atentado tinha sido merecido, e que não deveriam mexer com o povo islâmico.

Charb disse em entrevista uma vez que não era submetido às leis islâmicas, mas sim às leis da França, cujas bases eram liberdade, igualdade e fraternidade. Liberdade para escrever. Liberdade para desenhar. Liberdade para falar. Por mais que a Charlie fosse uma revista que até chegasse ao ponto de ofender, tinha liberdade para falar, para desenhar. Liberdade que lhe foi pisada pela lei de Maomé.

Interessante é lembrar que em outubro, incidente quase semelhante aconteceu. Na véspera do segundo turno das eleições presidenciais, a revista Veja publicou matéria de capa em que o doleiro Alberto Youssef dizia que Lula e Dilma sabiam de todo o esquema do Petrolão. Em retaliação, a União da Juventude Socialista (UJS), braço do PC do B e maior apoiadora da reeleição da candidata petista, depredou a frente do prédio da Editora Abril, que fica na Marginal Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. Se não houvessem seguranças e um portão forte, a UJS poderia fazer bem pior no prédio da editora.

Confesso que não sou um dos melhores defensores da Charlie Hebdo. Afinal, por diversas vezes, a revista fez sátiras do cristianismo. Sátiras pesadas, ao ponto de imitar a Trindade do Céu como um "casal" homossexual. Defendo a Charlie Hebdo simplesmente pelo fato de seguir a máxima de Voltaire. "Posso até não concordar com o que você diz, mas irei até o fim para garantir o seu direito de dizê-lo". Como um estudante de Jornalismo, é meu dever seguir essa máxima, por mais que o meu adversário seja contrário às minhas ideias.

Você pode até não ser Charlie. Mas você há de convir que quando a nossa liberdade é pisada e jogada na lama, é nosso dever ir procurá-la e restaurá-la, mas pelos meios legais. A hashtag #JeSuisCharlie não vai trazer Charb, Maris, Wolinski, Tignous, Cabu, Merabet, Brinsolaro e os outros mortos de volta à vida. Mas pode nos consolar. E ela pode nos mostrar que devemos estar juntos, ao menor sinal de tolhimento da nossa liberdade. Afinal, é a liberdade de expressão, de ir e vir, de ser o que quiser, de ler o que quiser, de amar a quem quiser, é que deve reger a nossa vida.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A Virgem

Fala, galerinha!! Beleza? 

Os últimos dias foram muito corridos. Quase sem tempo de escrever algo ou postar aqui. No entanto, agora que acabaram as ocupações de final de ano, volto ao blog para escrever. E na segunda, já assinarei o termo de compromisso para começar a estagiar na Assessoria de Comunicação da UFAM! (Vamos aqui nos ajoelhar e dar glórias a Deus, sim?)

Daqui a alguns dias, voltarei com os textos sobre política e tal. Preciso escrever sobre isso pra exercitar. Adianto que não sou nenhum Reinaldo Azevedo, ou Mário Sabino, ou Diogo Mainardi. Me inspiro nesses caras, e tenho certeza que quando eu crescer nesse meu Jornalismo mar lindo do mundo, vou ser igual a eles. Ou pelo menos tentar, né? Mas vamos logo ao que interessa!

Há alguns dias, a galera do Programa LigAção, que engloba os projetos de extensão UniLivre, Maloca Digital, Comunicadores Populares de Base e Paiol da Comunicação, fez o seu primeiro Seminário LigAção: Comunicação, Meio Ambiente e Cidadania na Amazônia. Logo depois, ia rolar uma mostra de textos, fotos, desenhos e outras coisinhas. Como estávamos perto do Natal, resolvi escrever uma coisinha especial para expor na mostra. Segue abaixo. Espero que gostem!

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A Virgem

Antes de eu contar a minha história pra você, saiba: um médico já a escreveu uma vez. Inclusive até está num livro que ele ajudou a escrever. Mas já que você quer saber, eu vou contar.

Meu nome é Maria. Você deve me conhecer como Nossa Senhora, mas eu não gosto desse título. Afinal, Senhor é só Deus.

Eu vivia na cidade de Nazaré. Meus pais, Joaquim e Ana, haviam me prometido em casamento a um homem chamado José. Embora a maioria das moças não gostasse disso, eu era diferente. Eu gostava mesmo de José. Ele era um bom homem. Eu conhecia a sua família, conhecia o seu trabalho. Sabia que ele já havia sido casado e era pai, e sabia que sua primeira esposa falecera ainda bem jovem, deixando dois filhos para que ele cuidasse. Eu, sinceramente, amava aquele homem. Tinha pena dele por ele viver só. Eu queria muito ser sua companheira. E, ao que parece, ele gostava muito de mim.

Um dia, poucos meses antes do meu casamento com José (santo Deus, será que alguém realmente vai acreditar nisso?) do nada, um homem apareceu na minha frente. (Antes que alguém diga que eu estava desocupada e vendo coisas, eu tinha acabado de buscar um balde de água para lavar as roupas e estava na frente da minha casa, OK?) Percebi que era diferente porque suas roupas não eram como as nossas, sua pele era mais alva que a nossa e sua feição era completamente diferente da de um israelita.

Aí ele falou: “Salve, agraciada! O SENHOR é contigo!”. Deus era comigo? Mas eu já não sabia disso? Aquele homem estava louco. Mas aí ele continuou “Maria, entre todas as mulheres, você foi escolhida por Deus para ser a mãe do Messias”. Aí, meu amigo, eu tremi. Entre todas as mulheres de Israel, EU, Maria, filha de Joaquim e de Ana, da humilde aldeia de Nazaré, tinha sido escolhida pra carregar o Salvador de Israel? COMASCIM, MINHA GENTE?!

Pode parecer loucura, mas eu pensei em um monte de coisas. Tibério César era Imperador de Roma. A Judeia estava sob domínio de Roma. Logo, se o imperador descobrisse que alguém tomaria o trono de Israel, minha família seria caçada e presa por traição contra Roma e César. E o mais importante: eu era virgem, meus queridos! Meu casamento com José seria dali a alguns dias! Eu não poderia simplesmente toma-lo durante o trabalho e ir me deitar com ele! O que seria de mim?! Eu seria escorraçada por José, minha família e por toda a cidade de Nazaré!

No entanto, ao mesmo tempo, me veio uma paz e um grande conforto interior. Afinal, Deus me escolhera para ser a mãe do Messias. Se Deus me escolhera, Ele tinha um plano. E sabe de uma coisa? Eu resolvi confiar em Deus. Mas mesmo assim eu fiquei temerosa. Como eu ficaria grávida se ainda era virgem? E eu perguntei isso do anjo. Ele até me disse o nome dele. Gabriel.

E ele me respondeu que o Espírito Santo viria sobre mim e Deus me cobriria com Sua sombra. OK, eu não entendi o significado destas palavras, mas tudo bem. Mas naquela hora, eu tinha que decidir se eu faria a minha vontade ou a vontade de Deus. Eu tinha que escolher. E eu escolhi. Eu escolhi fazer a vontade de Deus. Eu não tinha nada a perder. Se era de Deus, tinha que dar certo, né? Mas a minha surpresa ainda não estava completa. Gabriel também me disse que a minha prima Isabel estava grávida. De seis meses, ainda!

Aí eu caí pra trás! Isabel, grávida?! Como assim? Desde que eu me lembro, Isabel sempre fora mais velha que eu. Acho que agora ela deveria ter quase 50 anos! E grávida?! Eu não acreditei. Depois que Gabriel foi embora, entrei em casa, comecei a arrumar algumas coisas e no dia seguinte, parti para a casa de Isabel, nas montanhas de Judá.

Quando cheguei a casa de Isabel, ela veio me abraçar! E foi uma alegria só! Mas minha prima estava numa alegria sem igual, até mais do que eu. Perguntei a ela o motivo. Sabe o que ela respondeu? Que quando eu entrei em casa, o bebê dela começou a se mexer no ventre, agitadamente, como se desse louvores e ficasse alegre também. Contei a ela a novidade. E ela disse que foi por isso que o bebê dela se mexeu. Não aguentei. Aquilo era o sinal que eu precisava! Deus seria a minha retaguarda. Ele cuidaria de mim, não importasse o que meus pais ou até mesmo José pensassem de mim. Deus seria o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu socorro bem presente na angústia!

Pouco tempo depois, comecei a sentir enjoos. Lembrei do que o anjo dissera. E fiquei temerosa. Logo depois, a barriga começaria a crescer. E todos em Nazaré diriam que eu não era mais virgem, e que José não mais casaria comigo! Não temia por mim, mas sim por ele! Ele já sofrera demais, e ainda teria que sofrer mais?! Ele não suportaria. Tive que contar a ele o que acontecera. A princípio, ele quis me repudiar. Ficou irritado, mas ao mesmo tempo, triste, porque pensava o que todos pensariam. Disse que no dia seguinte, iria a meu pai para desfazer o compromisso. Supliquei a Deus, mas não temi. Ele seria a minha retaguarda e o meu amparo, meu escudo e proteção. E naquela noite, o anjo Gabriel apareceu a José, dizendo que não me devolvesse a Joaquim, mas que me tomasse por esposa, pois eu estava grávida do Filho de Deus.

No dia seguinte, José veio conversar comigo. Disse o que acontecera. E que acreditava em mim. E disse que me daria todo o apoio possível. E que se casaria comigo, já dali a alguns dias! Quase chorei de tanta alegria! Era muita emoção para um só coração, minha gente!

Casamos. E você já deve conhecer o restante da história. Minha barriga virou um barrigão, Tibério ordenou o censo do Império, tive que ir para Belém grávida, já sentindo algumas dores do parto, e em Belém, meu Filho (aliás, meu não! De Deus!), meu pequeno Jesus, nasceu. Moramos alguns anos no Egito e depois voltamos para Nazaré. Vi meu pequeno crescer e se tornar um homem, até assumir o seu papel: o de Salvador do mundo. Eu O vi morrer numa cruz, condenado pelos pecados de todo o mundo, e eu O vi quando Ele ressuscitou e subiu aos Céus! Quão maravilhoso foi para mim saber que o Filho que Deus me deu para criar era o Seu próprio Unigênito!

Quando me lembro de tudo isso, penso: eu poderia não ter escolhido ser mãe? Poderia continuar sendo uma moça em que ninguém via nada? Sim, poderia. Mas eu quis ser mãe. E, que maravilha!, ser a mãe do próprio Filho de Deus, prometido há muito tempo atrás a Adão! Sim, eu me orgulho de ter escolhido ser usada por Deus para o seu serviço. Não me arrependo de nada. E como eu disse, Deus foi e sempre será a minha retaguarda. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

[RESENHA] O Rio Comanda a Vida, de Leandro Tocantins

Salve, galera! As últimas semanas foram corridas, tensas, e mais um pouquinho. Faculdade matou, aulas de Legislação mataram, fui dispensado do Exército Brasileiro (OH GLÓREAS), e tava estudando pro concurso pra estagiário do Ministério Público do Trabalho. Salário bom, com apenas uma vaga, a gente não pode desperdiçar. Soma-se a isso o fato de eu estar ensaiando com o coral da minha igreja direto, uma vez que temos apresentação marcada no aniversário da igreja. Portanto, tá russo! Mas como a gente sempre arruma tempo pra escrever, hoje tem resenha! :D

O livro de hoje chama-se "O Rio Comanda a Vida", e foi escrito pelo amazônida Leandro Tocantins. Digo que o rapaz é amazônida porque nasceu em Belém, passou a primeira infância no Acre, viveu em Manaus e vivia viajando pelo Norte do Brasil. Foi representante do Governo do Estado do Amazonas no Rio de Janeiro durante o governo do professor Arthur Cezar Ferreira Reis. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais, o rapaz foi um dos autores do projeto da Zona Franca de Manaus, em parceria com o governador Arthur Reis e Arthur Amorim.

Autor do livro Santa Maria de Belém do Grão-Pará e de outros títulos que fazem referência à Amazônia, Leandrão escreveu O Rio Comanda a Vida em 1952, quando tinha apenas 21 anos (aaaaah, desgramado!). A primeira edição do livro foi lançada pela Editora A Noite, chefiada pelo poeta Cassiano Ricardo. Desde lá, foram lançadas nove edições, a última, em setembro de 1998. Saiu de circulação há muito tempo. A versão que tenho é xerocada, emprestada do prof. Allan Rodrigues. Claro que isso não faz o livro perder o seu valor intelectual, né?

No livro, Tocantins fala sobre o Rio Amazonas em toda a sua extensão, desde quando ele nasce Maranon, na América Hispânica, até a Ilha de Marajó. Mas não é só do rio e de suas características geográficas e etc., não. Don Leandro fala de como ele influencia na vida de quem mora às suas margens. Do caboclo que tira o seu sustento dele, do regatão que por ele navega, das cidades que estão às suas margens.

Tocantins destaca no livro o descobrimento e as navegações que se fizeram no Rio Amazonas. A primeira foi a do espanhol Francisco de Orellana, lá pelos idos de 1500. Orellana saiu de Guayaquil, no Equador, passou por Iquitos, no Peru, e entrou nas atuais terras brasileiras. Daí, subiu todo o Amazonas, passando por Mariuá, São José da Barra do Rio Negro, Nhamundá (onde teve um "agradável" encontro com las icamiabas, a quem chamou de "amazonas" [ressalte-se que foi daí que veio o nome do rio]), Parintins, Santarém e Santa Maria de Belém do Grão-Pará. Mariuá hoje é Barcelos, São José da Barra do Rio Negro é Manaus, e Santa Maria de Belém do Grão-Pará é a cidade de Belém. À época de Orellana, ainda não existiam.

O autor também cita na obra as lendas, mitos, festas folclóricas e agricultura das cidades do Rio Amazonas. Fala da origem do Boi-Bumbá de Parintins, do Círio de Nazaré celebrado em Belém, da festa do Divino Espírito Santo, e de outras celebrações regionais. Engana-se quem pensa que o livro só fala de cultura. Também fala sobre a geologia, a hidrografia, a cronologia das formações rochosas da Amazônia, e por aí vai.

Ao final do livro, Leandro faz um apanhado dos problemas por quais passa a Amazônia em si. À época, empresas estrangeiras queriam comprar a Amazônia e fazer dela um terreno de experiências científicas. Ele se preocupa porque os jovens e até os outros governantes não se preocupavam. Lembremos que o livro foi escrito em 1952. Logo depois disso, o Governo Federal resolveu olhar para o Norte do Brasil. O general Humberto de Alencar Castelo Branco foi um dos primeiros que cuidaram do Comando Militar da Amazônia. O presidente Juscelino Kubitschek criou a SPVEA. Finalmente, em 1967, em lugar do Porto Franco de Manaus, foi criada a Zona Franca de Manaus, inaugurada pelo presidente general Artur da Costa e Silva.

Resumindo a ópera: O Rio Comanda a Vida é um livro feito para se entender a Amazônia e entender o nosso lugar nela. Todos somos parte disso, e devemos lutar pelo seu desenvolvimento, sem a intervenção de ninguém. Afinal, essa é a nossa terra. Terra do nosso país!

Lucas Vítor Sena

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Aquele que há de vir virá, e não tardará.

Imagine-se no dia 23 de outubro de 1844. No dia anterior, você esperava que Cristo retornasse pela segunda vez para te levar ao Céu para viver com Ele eternamente. Mas Ele não veio. E você, que tinha esperança de ver novamente um parente falecido, ficou extremamente triste e desapontado. Pois é. O dia 22 de Outubro de 1844 ficou conhecido como o "Dia do Grande Desapontamento".

Há 170 anos atrás, Guilherme Miller pregava que Jesus voltaria pela segunda vez no dia 22 de Outubro de 1844. Só que ele não tirou essa conclusão de um devaneio. O homem estudou e muito as profecias contidas no livro de Daniel. Principalmente a do verso 14 do capítulo 8, que diz: "Até 2300 tardes e manhãs, e o santuário será purificado".

Para entender tudo isso, vou colocar uma rápida explicação aqui. Partamos do pressuposto que dia, em profecia, se refere a um ano. Tarde e manhã, portanto, seria um dia. Assim, pela big lógica, 2300 tardes e manhãs são iguais a 2300 anos.

Os 2300 anos começaram no ano de 457 a. C., que foi quando o Rei Xerxes assinou o decreto para a reconstrução de Jerusalém. A partir dessa data, o povo de Israel, segundo os versos 23 a 27 do capítulo 9 de Daniel, teria setenta semanas proféticas para se arrepender dos seus maus caminhos e voltarem ao Senhor. Primeiramente, a partir do decreto para reconstruir Jerusalém, que fora destruída pelos babilônios, seriam sete semanas de anos. Portanto, 49 anos. Jerusalém começou a ser reconstruída de fato no ano de 408 a. C. A partir daí, mais 62 semanas de anos, ou seja, 434 anos, até o Ungido, o Príncipe, o Messias.

Contando 434 anos a partir de 408 a. C., chegamos ao ano de 27 d. C. Nesse ano, Jesus foi batizado, ungido, para iniciar o seu ministério. Era a última semana de ano de graça para o povo de Israel. Segundo o verso 27, na metade da última semana, o Ungido faria cessar "o sacrifício e a oferta de manjares". No ano 31 d. C., Cristo Jesus, condenado por Pôncio Pilatos, foi crucificado, fazendo cessar todo o antigo sistema de sacrifícios da Lei de Moisés. No momento da morte de Jesus, o véu que separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo do Templo de Jerusalém se rasgou ao meio, como que por mão humana. Isso significava que a partir daquele momento, homem nenhum mais precisaria de um cordeiro para pedir perdão dos seus pecados, pois o Cordeiro de Deus acabara de morrer por todos, e a graça de Deus se manifestara salvadora a todos os homens.

A semana de anos terminou em 34 d. C. Nesse ano, os membros do Sinédrio ordenaram o assassinato de Estêvão. Assim, o tempo especial de graça para Israel acabara, e o Evangelho deveria ser levado a todas as nações da Terra. Os 1810 anos restantes resultam no ano de 1844. E no ano de 1844, para Miller, o santuário que seria purificado era a Terra. Assim, essa era a base que tinham para crer que Cristo voltaria há 170 anos atrás. Mas Ele não veio.

No dia 23 de outubro, um dia como este, Hiram Edson, um pregador milerita, voltava com mais uma pessoa para uma cidade. Andando por um milharal, subitamente, foi levado a olhar para o Céu. Naquele momento, ele viu o Céu se abrindo e viu Cristo entrando no Santuário Celestial. Voltaram correndo para onde estava Miller e os outros crentes e lhes contaram o que acontecera. Voltaram seus olhos à Palavra de Deus, e viram que as datas estavam todas corretas, mas que erraram apenas o evento. Novamente, seus corações se encheram da bendita esperança de ver o Salvador!

Há um ditado que diz que depois da tempestade, vem a bonança. Costumo dizer que depois do desapontamento, vem a esperança. Sempre foi assim. A esperança de dias melhores, de que tudo vai mudar, de que tudo vai melhorar, mesmo com todas as adversidades. A esperança que inundou o coração de Edson, Miller, White, Smith, Snow, e tantos outros, é a mesma que inunda hoje o meu coração, 170 anos depois.

Deve ter sido triste demais para a esposa do pastor Carlos Fitch, falecido pouco antes do Desapontamento, saber que o esposo não ressuscitaria naquele 22 de Outubro. Mas deve ter sido muito mais encorajador quando ela soube que o marido ressuscitaria, que ela só precisaria esperar um pouco mais, pois Aquele que há de vir, virá, e não tardará.

Mais cedo, escrevi sobre meu tio. Tenho esperança de vê-lo, bem como o meu avô, a minha avó, meus bisavós, um tio que não conheci, pois foi natimorto, infelizmente. Mas como diz o velho hino, "primeiro eu quero ver meu Salvador, sim, antes dos queridos ao redor! E então por longos dias, que doces alegrias! Mas quero ver primeiro o Salvador!".

Primeiro, quando eu chegar no Céu, quero ver meu Salvador. Quero dar um abraço bem forte nEle e agradecê-Lo por não ter desistido de mim naquela cruz. Quero agradecê-Lo pessoalmente pelo Seu dom inefável que nós não merecíamos, que é a Sua graça. E quero agradecê-Lo por um dia, ter me dado a esperança de estar nos Céus com Ele, adorando-O eternamente. Que tal você também se preparar para isso? Que tal você também se preparar para ver um ente querido seu? Que tal alimentar a esperança dos Céus no seu coração?

Porque não voto em Dilma Rousseff

Antes de mais nada, digo: esse é um blog de opinião. Aqui, eu expresso as minhas opiniões, doa a quem doer. Respeito opiniões contrárias, mas aceitá-las, como diz minha socialista favorita Ana Luiza Santos, #nãosouobrigado.

Perdoem-me se vocês lerem palavrões neste post. É preciso inseri-los, já que sem eles, não terá a mesma emoção e graça que com eles.

Meu avô se chamava Francisco das Chagas Rodrigues. Era comerciante, viajando pelo Nordeste pra comprar e vender mercadorias, mas morava no Maranhão. Teve três filhos, cada um em uma cidade diferente do Estado: Vera Lúcia (mamãe), em Caxias; Francisco de Assis, em Pindaré Mirim; e Daniel, em Bom Jardim. Minha avó faleceu em 1971, dois anos depois do nascimento do tio Daniel. Os quatro vieram pra Manaus em 1976, pra melhorar a vida.

Tio Assis, em 1978, mais ou menos, entrou na antiga Escola Técnica Federal do Amazonas (ETFAM), hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM), no curso de Eletrônica. Lá, começou a se encantar pela política. Conheceu um rapaz por nome Vicente Mubarac, que, à época, militava na Liga Árabe do Brasil. Por Mubarac, foi apresentado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no Amazonas. Se juntou ao partido e em dado momento, foi eleito Secretário de Massas do partido. O Brasil, à época, passava pelo Regime Militar instaurado em 1964, sob comando do General Ernesto Geisel. Logo depois, o General João Figueiredo assumiria a Presidência da República, e assim, daria início à redemocratização no país.

Tio Assis, assim, começou a militar no partido. Conheceu Vanessa Grazziotin, Eron Bezerra, Arthur Virgílio Neto, Eloy Menezes (pai), Sandro e Selma Baçal, Fábio Lucena, e tantas outras figuras. E por militar no Partido, começou a ser perseguido pela Polícia. Ele, no entanto, era calmo. Sempre foi calmo. Seu codinome, segundo Mubarac, era Tim, em referência ao bom e velho Tim Maia, de cujas músicas ele sempre gostou. Seu cabelo, à época, era aquele black power que fazia um sucesso tremendo. Um gordão gentil, que vivia com um sorrisão no rosto.

Lembro-me de uma vez que me contou que pulara do último andar do prédio da Escola Estadual Ângelo Ramazzotti, em Adrianópolis, junto com tio Eloy e mais uns outros. De lá, foram correndo para a sede da UESA, na Avenida Epaminondas, no Centro. Ele não me contou o trajeto, uma vez que é difícil lembrar de algo quando a polícia está no seu encalço. No entanto, posso imaginar que seu trajeto tenha sido Belo Horizonte-Boulevard-Ramos Ferreira-Leonardo Malcher-Epaminondas. Mamãe também me contou de uma vez em que ele pulou os muros da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), e invadiu o prédio, na Praça 14, com alguns amigos, em protesto. Deu polícia na área, ele foi preso, mas solto logo depois.

Meu tio também fazia parte do movimento estudantil, como já falei. Foi da UESA. Consequentemente, ligado à UBES. Nunca foi da UNE. Foi com o seu pioneirismo e de mais pessoas que hoje os estudantes têm direitos garantidos, como a meia-passagem e meia-entrada. Isso é algo para ser respeitado. Ele viveu numa época em que ser livre não era fácil. E eu sempre o tive como meu herói por causa disso, porque ele sempre lutou por liberdade e justiça. Sem levantar bandeira de partido, sem usar de Filosofia, sem nada. Mais importante ainda: sem usar de violência e sem difamar ninguém. Seu único anseio era por liberdade e justiça. Ele queria deixar uma herança boa e uma terra melhor para seus filhos, sobrinhos e netos.

Em 1981, meu primo Emerson nasceu. Com isso, ele deixou o movimento e montou sua oficina de eletrônica na Cachoeirinha. Minha prima Helen nasceu em 1982, e em 1987, meu primo Ellipeterson veio ao mundo. Poucos anos depois, tio Assis e a família se mudaram pra Boa Vista, pra começar a vida lá. Montou uma locadora de vídeo, a Hobby Vídeo, uma das primeiras de lá. Entre seus primeiros clientes, ele se orgulhava de ter o atual senador da República Romero Jucá, e sua esposa, atualmente não mais, dona Teresa Surita, hoje prefeita de Boa Vista. Ottomar de Sousa Pinto, ex-governador de Roraima, já falecido, foi um de seus clientes, salvo engano.

Mas por quais cargas d'água estou contando a história dele? Simples.

Meu tio, quando Dilma Rousseff foi eleita, se orgulhava de ter dito que não votou nela. Quando amadureci mais, perguntei a razão. Sabe o que ele respondeu? "Eu não voto em terrorista e assaltante de casa de governador. Essa mulher, meu filho, assaltou a casa do governador Adhemar de Barros! Sabe-se lá o que ela pode fazer com o país!"

Sempre soube que seus votos iriam para duas pessoas: Romero Jucá e Anchieta Júnior. Na última conversa que tive com ele, três dias depois de retornar de Foz do Iguaçu, perguntei a ele em quem ele votaria. Sabem o que ele respondeu? "Em qualquer um que tenha coragem de se opor à essa filha da puta chamada Dilma Rousseff!". Sorri, e lhe disse que Marina Silva estava à frente nas pesquisas. Ele disse: "Meu filho, o Aécio vai passar da Marina e vai pro segundo turno com a Dilma. E quando eu sair desse leito, eu vou votar no Aécio. Mas naquela terrorista, eu não deposito meu voto!"

Infelizmente, meu tio não teve tempo pra se levantar do leito 354 do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto e votar em Aécio Neves. Faleceu antes, no dia 14 de setembro, em decorrência de trombose, choque séptico e diabetes. Foi o pior presente de aniversário que eu recebi. No dia 16, vasculhei minha timeline em busca de uma mensagem sua de feliz aniversário. Foi quando caiu a ficha. E doeu demais. Eu não era mais o mesmo. Ninguém mais ia cantar pra mim as músicas de Chico da Silva e me mandar adivinhar. Eu não ia mais cantar Morena Tropicana, de Alceu Valença, ou Meu Amigo Charlie Brown, de Benito di Paula (inclusive, ele me contou que Benito di Paula é o mestre do samba no piano) junto com ele, com um largo sorriso e fazendo uma segunda voz. Eu não cantaria mais Porto Solidão para ele continuar junto comigo. Eu não teria mais o meu mestre da MPB, que cantaria Caetano Veloso, Edu Lobo, Chico Buarque, Gal Costa, Nana Caymmi e Maria Bethânia comigo. Eu tinha perdido o meu modelo de pai.

Quando o dia terminou, eu fiz uma promessa para mim mesmo. Eu prometi para mim que honraria sua vontade. Prometi pra mim que eu faria o que ele não fez. Prometi pra mim que votaria em Aécio Neves para Presidente da República. Eu já votaria no neto de Tancredo, por várias razões. Mas a vontade de meu tio e o fato de ele não ter tido tempo de executá-la me deu ainda mais forças para ajudar a tirar o PT do poder.

É porque eu quero um país melhor que vou votar em Aécio Neves. É porque eu quero mais liberdade, mais justiça e mais democracia que eu vou votar em Aécio Neves. Mas acima de tudo, votarei no neto do Dr. Tancredo Neves para honrar a memória do meu tio, meu velho, meu amigo. E quando eu o vir novamente na manhã de luz, muito além do Sol, quero que ele saiba disso. Sei que ele vai ficar feliz, embora nossas atenções estejam sempre voltadas para o Deus que nos remiu na cruz.

Torcedor roxo do Botafogo, lembro-me de uma vez em 2013 em que eu, meu irmão e minha cunhada assistíamos ao clássico Flamengo x Botafogo junto com ele, aqui em casa. Nós com a camisa do Flamengo, ele com a camisa do Botafogo, especial, que ganhara do genro Rodrigo. No primeiro gol do Flamengo, comemoramos na cara dele. Ele falou "É? Beleza. Bora ver quem ri por último". Dito e feito. Botafogo fez dois gols no Flamengo. Em cada gol, ele gritava "PEGA, FILHA DA PUTA!", e dançava na nossa cara. Aliás, "filha da puta", tanto se referindo a homem quanto a mulher, foi um palavrão que nunca saiu do seu vocabulário pessoal. Nunca nos importamos com isso.

Abaixo, minha última foto com tio Assis, de quem sentirei e sinto muitas saudades até o dia em que ele ressuscitar. A careta foi proposital mesmo. Ele nunca foi de formalidades. Ele sempre conservou o sorrisão. E é desse sorriso que eu vou me lembrar pra sempre, até o dia em que eu o vir sorrindo novamente, vendo o nosso Cristo e recebendo a coroa dos salvos.


 Lucas Vítor Sena

domingo, 12 de outubro de 2014

Quando o racismo ultrapassa os gramados

Quantas vezes nós presenciamos casos de racismo no futebol? Citamos, como exemplo, Mario Balotelli, atualmente do Manchester United, e Daniel Alves, do Barcelona, que sofreram racismo na Europa. Recentemente, o goleiro Aranha, do Santos, foi hostilizado por uma torcedora do Grêmio, o que gerou várias represálias à moça, gaúcha e branca. Prato cheio para a galera dos Direitos Humanos.

No entanto, o que me deixa mais triste é que o racismo entre torcidas é o mais constante. Todos nós sabemos que existe a zoeira. E pelas leis internéticas, a zoeira nunca acaba. Mas quando a zoeira ultrapassa os limites da Internet, precisa ser contida.

Hoje, pela Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro, aconteceu o jogo Flamengo x Cruzeiro. Flamengo, em 10° lugar, deu uma sova de 3x0 no Cruzeiro, líder isolado do campeonato. Até aí, tudo bem. Flamengo comemora, Cruzeiro chora, mas recupera. Continua sendo líder isolado. Mas o que aconteceu aqui em Manaus foi bem pior.

Tenho um grande amigo da faculdade, com quem faço meus trabalhos e com quem já fui ao Intercom Nacional desse ano pra trazer um prêmio do Expocom Nacional. É amazonense de nascimento, mas mineiro de coração. Hoje, ele e a família foram hostilizados demais pelo simples fato de serem cruzeirenses. Seu pai é mineiro, e como todo bom mineiro, herda e passa pro filho a paixão pelo time.

Depois do jogo, eu ia zoá-lo. Ele devia estar na procissão de Nossa Senhora de Aparecida prestando homenagens à Padroeira do Brasil, e eu achava que não assistira ao jogo. Ele me contou que quando chegou em casa pra assistir ao jogo, algumas pessoas viram uma bandeira do Cruzeiro pendurada na parede de fora da casa e começaram a tacar ovos na casa. Além disso, tem sido atacado constantemente desde o jogo, com mensagens que diziam que seu pai deveria voltar para Minas Gerais, pois veio pra Manaus pra roubar os empregos dos amazonenses.

Eu pergunto, meus senhores: somos animais? Me respondam, com toda a franqueza. Somos animais? Porque a atitude que tomaram e ainda estão tomando contra o rapaz é a mais animalesca possível. É racismo! É discurso de ódio, como gostam de falar! Preconceito baseado em naturalidade é o pior tipo de preconceito que se pode ter. Vide o que fizeram Hitler, Stálin, Tito, Milosevic e Ceausescu.

Enojam-me, sinceramente, atitudes como essa. Quando é que vamos parar de julgar uma pessoa a partir do time que torce e vamos julgá-la pelo seu caráter e atitudes? Quando é que vamos criar vergonha na cara e parar com esse maldito ódio entre times e torcidas?! Somos rivais? Somos! Precisamos hostilizar? Não! Marcelo Moreno, Éverton, Eduardo da Silva e Alexsandro não vem de Belo Horizonte ou do Rio de Janeiro pra pagar nossas contas.

Fomos, na Criação, dotados por Deus de consciência e poder de discernimento. Que tal usarmos um pouco desse poder de discernimento? As rivalidades Cruzeiro x Atlético-MG, Flamengo x Vasco, Internacional x Grêmio, Corinthians x São Paulo, Santos x Palmeiras sempre irão existir. Cabe a nós agirmos com consciência e não nos deixar levar pelas emoções. Oxalá possamos voltar a agir como humanos. Do contrário, vamos agir sempre como animais, já que atitudes assim são tomadas só por animais.

Lucas Vítor Sena

sábado, 11 de outubro de 2014

Porque a República vai cair. Ou: O sistema ideal para o Brasil

Em época de eleição, tanto regional quanto presidencial, é sempre a mesma coisa. De um lado, o PT. Do outro, o PSDB ou outro partido coligado. Acaba ganhando um desses dois, e não alguém que represente de verdade uma mudança para o país. Em 1993, o Brasil teve a chance de escolher entre três formas de governo: a república presidencialista, a república parlamentarista, e a monarquia parlamentarista. Nossos pais e tios, naquela época, preferiram a república presidencialista, e hoje nós colhemos os resultados disso. Com toda a franqueza, digo: o Brasil fez uma péssima escolha.

Todos devem ter estudado na escola a história do Brasil, que em 1889, o nobre Marechal Deodoro da Fonseca destituiu o tirano Imperador D. Pedro II e proclamou a república e a liberdade. Afirmo, com toda a sinceridade, que isso é história pra boi dormir. É balela. Nada mais do que isso. Explico a razão.

Em idos dos anos 1880, o Brasil vivia um tempo de progresso. As leis contra escravidão já vinham sendo aprovadas desde o final dos anos 1860. O Brasil, naquela época, era considerado um país de primeiro mundo, e Sua Majestade, o Imperador Pedro II, gozava de prestígio sem igual entre os brasileiros e era sempre escolhido como árbitro de várias questões mundiais. Para se ter uma noção do respeito que se tinha pela figura de Pedro II, em 1876, quando este visitou os Estados Unidos da América, em tempo de eleições presidenciais, chegou a receber quatro mil votos!

O Império do Brasil era considerado, nos anos 1870, como um país que hoje seria chamado de primeiro mundo. Tínhamos a Real Academia Militar de Fortificação e Desenho, que hoje é o Instituto Militar de Engenharia do Exército Brasileiro, uma das primeiras em todo o mundo e a primeira do Brasil na área da Engenharia; o Imperial Instituto para Meninos Cegos, dirigido pelo professor Benjamin Constant, que hoje é o Instituto Benjamin Constant, referência na área de educação para deficientes visuais;,o Imperial Colégio Pedro II, que deu origem ao Colégio Pedro II, tradicional do Rio de Janeiro e que originou os vários Colégios Militares; e etc. No Amazonas, o Gymnasio Amazonnense Pedro II, hoje Colégio Amazonense D. Pedro II, e o Instituto de Educação do Amazonas, foram fundados em 1884 e 1880, respectivamente, pelo próprio Imperador ou um representante seu.

No campo da integração nacional, o Brasil possuía mais de 5000 km em estradas de ferro, que faziam ligação tanto entre cidades quanto ligação entre as cidades e os principais portos do país, como Paranaguá e Santos. Nas Forças Armadas, Mar e Terra estavam bem avançados. Tínhamos estrangeiros e oficiais brasileiros treinados em Portugal, França e até mesmo na Escola Militar da Praia Vermelha, que originou a Academia Militar das Agulhas Negras. Nossa Marinha de Guerra era uma das mais avançadas em todo o mundo, perdendo apenas para a Marinha da Inglaterra. Tanto é que durante a época da Questão Christie, o Brasil não se acovardou, e Pedro II mandou dizer à Rainha Vitória (em termos atuais): "se Vossa Majestade quer brigar, pode vir. só não reclame depois".

O Imperador Pedro II prezava pela educação. Tanto que era homem letrado, versado em várias línguas e ciências. Falava inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, latim e até o provençal. Sabia matemática, astronomia, política, geografia, Direito, entre outros. Patrono das artes e das ciências, financiou várias expedições científicas europeias que vinham fazer estudos no Brasil. Também pagava com o seu soldo (que nunca aumentou, em 59 anos de reinado) os estudos de jovens na Universidade de Coimbra e até mesmo as despesas de jovens músicos que iam estudar na Europa, sem pedir nada em troca. Graham Bell foi um destes, depois que o imperador assistiu a uma demonstração de funcionamento do telefone, na Exposição Internacional da Filadélfia, em 1876. Vale lembrar que o imperador foi o primeiro que testou o telefone publicamente. Villa-Lobos, compositor de "O Guarani", foi também um dos que tiveram seus estudos pagos pelo Imperador. A maestrina Chiquinha Gonzaga, embora fosse contra o sistema monárquico, era mais que admirada por Pedro II, trazendo um tom mais brasileiro às polcas e valsas originárias da Europa. Foi daí que surgiu o maxixe e o samba, tudo no piano.

Engana-se quem pensa que a Família Imperial era escravista. Pedro I, em carta a um de seus conselheiros, logo após o lançamento da Constituição de 1824, disse que era um desejo seu a libertação de todos os escravos. No Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista, Pedro II sempre abrigou escravos, dando-lhes a carta de alforria em todas as vezes que estes eram descobertos. Conta-se que certa vez, quando o Imperador estava fora do Brasil e Isabel era a Regente Imperial, foram alforriados mais de 50 escravos que haviam se escondido na Quinta da Boa Vista. André Rebouças, amigo pessoal de Pedro II, era negro, e tornou-se engenheiro, sempre sob a proteção do Imperador. O apreço que os negros tinham pela Princesa Isabel era tamanho que eles mesmos formaram a Guarda Negra, que protegia a Princesa e a Família Imperial.

Em 1888, a Princesa, pelo seu dever, assinou a Lei Áurea. Logo depois da assinatura, o Barão de Cotegipe lhe proferiu em tom profético: "Vossa Alteza Imperial libertou uma raça, mas perdeu um trono!" A princesa, calma e serena, mas confiante, lhe respondeu: "Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os negros do Brasil". O Imperador, que estava se tratando de grave doença em Milão, enviou nota à Isabel parabenizando-a pela sábia decisão, e até o Papa enviou-lhe a Rosa de Ouro, em agradecimento pelos préstimos à raça humana. Inclusive, não era segredo para ninguém que Isabel tinha o desejo de libertar mais ainda os negros, provendo-lhes auxílio do Banco Imperial a partir do ano de 1890, a fim de que eles se estabilizassem economicamente mais rápido. A Princesa, muito à frente de seu tempo, ainda provou ser uma pioneira, querendo dar às brasileiras o direito de votar. Mas tudo mudou.

A Proclamação da República foi um golpe militar, orquestrado por Benjamin Constant e mais algumas pessoas do Partido Republicano. Deodoro nem estava no meio ainda. Entrou na briga quando descobriu que um antigo desafeto seu, o gaúcho Gaspar da Silveira Martins, poderia assumir a Presidência do Conselho de Ministros a partir de dezembro de 1889 em lugar do Visconde de Ouro Preto, a pedido do Imperador. Vale lembrar que em 1883, os dois disputavam a Presidência do Rio Grande do Sul e o amor da Baronesa de Triunfo, Maria Adelaide Medeiros. Silveira Martins ficou com o Rio Grande e Adelaide. E Deodoro ficou bem chateado, pra não dizer puto.

"Então quer dizer que quem acabou com a Monarquia foi uma mulher?" Sim. Tem dúvida? Recorra a Laurentino Gomes, no livro 1889. À época do Golpe, Deodoro estava doente, assinando a declaração de independência na cama. Constant e outras lideranças se incumbiram de tratar do resto.

Deodoro foi tão desonesto que mandou um mensageiro, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, dizer ao Imperador que este tinha menos de 24 horas para deixar o Rio de Janeiro e o Brasil. Sua Majestade tinha acabado de descer de Petrópolis, já tinha ciência da proclamação e não faria oposição, embora Ouro Preto, o Conde D'Eu e tantos outros insistissem em organizar a resistência. Deixaria o Rio de Janeiro na tarde do dia 17 de novembro. Mas houve tamanha desonestidade por parte das lideranças republicanas que a Família Imperial - que tinha um imperador e uma imperatriz já idosos, além da Princesa Isabel e do Conde D'Eu, seus filhos e todos os outros agregados - foram obrigados a deixar o Rio de Janeiro na madrugada do dia 16 para o dia 17 - na calada da noite, como fugitivos - em direção a Lisboa e depois a Paris. A imperatriz Teresa Cristina faleceu em Paris, apenas três semanas depois de chegar à Europa. Pedro II morreu num hotel em Paris em 1891, sendo enterrado no Panteão dos Braganças, túmulo de sua família, a Real Portuguesa, na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa. Em 1922, os restos da Imperatriz Teresa Cristina e do Imperador Pedro II foram trasladados para o Brasil. Na ocasião, foi proclamado feriado nacional, e por onde passava o esquife dos imperadores, era ovacionado. Foi sepultado no Mausoléu Imperial, na Catedral de Petrópolis, onde está até hoje.

Depois da Proclamação, o Brasil mergulhou num período ditatorial. Instituiu-se a famigerada República da Espada, chefiada pelos Marechais Deodoro e Floriano Peixoto, este último tão cruel quanto um chefe do Primeiro Comando da Capital ou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Em Nossa Senhora do Desterro, capital de Santa Catarina, Peixoto mandou matar com requinte de crueldade todos os que lhe eram opositores e eram a favor da volta do Imperador. Logo depois, a cidade mudou de nome. De Nossa Senhora do Desterro, passou a se chamar Florianópolis. Pois é. Além, claro, da Guerra de Canudos, que massacrou homens, mulheres e até crianças.

Depois de eu ter feito você ler tudo isso, você deve estar se perguntando: "Tá, e daí? Pedro II morreu, Deodoro assumiu, e aí? O que isso tem a ver com as eleições?"

Simples. Por causa de Deodoro, nós vivemos nessa maldita dicotomia entre escolher o menos pior e um ligado ao Foro de São Paulo (posso falar disso noutro post). Depois da Proclamação da República, em pouco mais de 120 anos, tivemos (vamos contar?) três ditaduras, SEIS (1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1988) Constituições, e algumas vergonhas das quais não devemos nos orgulhar, como apoiar nazistas, fechar jornais, censurar a imprensa, cassar liberdades individuais, e por aí vai.

"Ah, mas eu não vou pagar meus impostos pra sustentar uma Família Imperial composta de vagabundos!"

Amigo, lamento te dizer, mas você sustenta as famílias de Fernando "Corda de Merda" Collor de Mello, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Até pouco tempo atrás, sustentava também a de Itamar Franco. Então não vem com essa de que "vou sustentar uma família de vagabundos". Você já sustenta cinco vagabundos com os seus impostos.

"Ô seu filho de uma égua, você sabe o quanto custa sustentar uma monarquia?"

Faz o seguinte? Compara os gastos que o Reino Unido tem com a Família Real. Aí depois você compara os gastos que a República Portuguesa tem com Cavaco Silva. E depois, compara com os gastos que o Brasil tem com a Dilma Rousseff. Um Imperador é educado desde a tenra infância para gerir uma nação um dia. Uma criatura dessas não vai, em sã consciência, afundar o país. Tudo o que ele puder fazer de melhor para o desenvolvimento do país, ele vai fazer. Só um exemplo rápido: Elizabeth II, rainha da Inglaterra, subiu ao trono oficialmente em 1953. Teve como primeiros-ministros Winston Churchill, Margaret Thatcher, baronesa Thatcher de Kesteven, Tony Blair e David Cameron. Nomes competentíssimos, que em situações de crise, ajudaram a Rainha a sustentar o país. Hoje, a Rainha tem mais da metade da aprovação do povo. Querem adotar um sistema republicano? Pouquíssimos.

Pra terminar, deixo com vocês um pensamento do Visconde de Ouro Preto, publicado no livro Advento da Ditadura Militar no Brasil:

"O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século, manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três povos vizinhos deveram o desaparecimento do despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem, segurança e, mais que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país algum. Quais as faltas ou crimes de Dom Pedro II, que em quase cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros praticados que o tornou merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A república brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A república se levantou sobre os broquéis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na história e terá uma existência efêmera!"

As palavras de Ouro Preto já estão se cumprindo. A República, depois de vários escândalos de corrupção, tanto do PSDB e seus coligados quanto do PT e seus coligados, está com os seus dias contados.

#MonarquiaJá.

Lucas Vítor Sena