domingo, 11 de janeiro de 2015

#JeSuisCharlie (ou #JeNeSuisPasCharlie)


Na última quarta-feira, o mundo ficou chocado com uma atrocidade ocorrida na França. Três muçulmanos entraram na sede da revista satírica Charlie Hebdo, em Paris, e mataram doze pessoas. Entre os mortos, o editor Stéphane Charbonnier (Charb), o vice-editor Bernard Maris e os cartunistas Georges Wolinski, Bernard Verlhac (Tignous) e Jean Cabu. O crime? Fazer caricaturas de Maomé. Além deles, os policiais Franck Brinsolaro e Ahmed Merabet, este último, também muçulmano.

As mortes de Wolinski, Tignous e Cabu nos remetem à uma simples pergunta: vale à pena morrer em nome da liberdade? É sabido desde os últimos dias que as charges da Charlie Hebdo nunca foram "bonitinhas". Muito pelo contrário. Bento XVI, à época de sua renúncia, foi alvo das canetas da revista. O próprio Jesus Cristo também foi protagonista dos lápis de Wolinski, Tignous e Cabu. Mas os cartunistas tinham um certo prazer, digamos assim, em desenhar Maomé, e pagaram com a própria vida por isso.

O atentado à Charlie repercutiu no mundo inteiro. Mas aqui no Brasil, parece que esfriou um pouquinho. Cartunistas com um certo viés ideológico de esquerda, como Carlos Latuff e Laerte Coutinho, deram suas opiniões sobre o atentado. E adivinhem só quem eles culparam, em potencial? Pois é. A chamada "extrema direita", "fascista, reacionária, burguesa, exploradora, paulista" e o escambau.

Na Globo News, Arlene Clemesha, professora de História Árabe na Universidade de São Paulo (USP) comentou sobre o assunto. No jornal O Globo, um professor do Instituto de Relações Internacionais falou sobre o assunto. E quem foi o principal alvo? A "extrema direita". Todos, a uma só voz, disseram que o atentado faria com que "a direita adotasse ainda mais a xenofobia e a islamofobia". Clemesha foi ainda mais além. Disse, em linhas gerais, que a revista, com suas publicações, atacou a dignidade de um povo, e que o atentado tinha sido merecido, e que não deveriam mexer com o povo islâmico.

Charb disse em entrevista uma vez que não era submetido às leis islâmicas, mas sim às leis da França, cujas bases eram liberdade, igualdade e fraternidade. Liberdade para escrever. Liberdade para desenhar. Liberdade para falar. Por mais que a Charlie fosse uma revista que até chegasse ao ponto de ofender, tinha liberdade para falar, para desenhar. Liberdade que lhe foi pisada pela lei de Maomé.

Interessante é lembrar que em outubro, incidente quase semelhante aconteceu. Na véspera do segundo turno das eleições presidenciais, a revista Veja publicou matéria de capa em que o doleiro Alberto Youssef dizia que Lula e Dilma sabiam de todo o esquema do Petrolão. Em retaliação, a União da Juventude Socialista (UJS), braço do PC do B e maior apoiadora da reeleição da candidata petista, depredou a frente do prédio da Editora Abril, que fica na Marginal Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. Se não houvessem seguranças e um portão forte, a UJS poderia fazer bem pior no prédio da editora.

Confesso que não sou um dos melhores defensores da Charlie Hebdo. Afinal, por diversas vezes, a revista fez sátiras do cristianismo. Sátiras pesadas, ao ponto de imitar a Trindade do Céu como um "casal" homossexual. Defendo a Charlie Hebdo simplesmente pelo fato de seguir a máxima de Voltaire. "Posso até não concordar com o que você diz, mas irei até o fim para garantir o seu direito de dizê-lo". Como um estudante de Jornalismo, é meu dever seguir essa máxima, por mais que o meu adversário seja contrário às minhas ideias.

Você pode até não ser Charlie. Mas você há de convir que quando a nossa liberdade é pisada e jogada na lama, é nosso dever ir procurá-la e restaurá-la, mas pelos meios legais. A hashtag #JeSuisCharlie não vai trazer Charb, Maris, Wolinski, Tignous, Cabu, Merabet, Brinsolaro e os outros mortos de volta à vida. Mas pode nos consolar. E ela pode nos mostrar que devemos estar juntos, ao menor sinal de tolhimento da nossa liberdade. Afinal, é a liberdade de expressão, de ir e vir, de ser o que quiser, de ler o que quiser, de amar a quem quiser, é que deve reger a nossa vida.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A Virgem

Fala, galerinha!! Beleza? 

Os últimos dias foram muito corridos. Quase sem tempo de escrever algo ou postar aqui. No entanto, agora que acabaram as ocupações de final de ano, volto ao blog para escrever. E na segunda, já assinarei o termo de compromisso para começar a estagiar na Assessoria de Comunicação da UFAM! (Vamos aqui nos ajoelhar e dar glórias a Deus, sim?)

Daqui a alguns dias, voltarei com os textos sobre política e tal. Preciso escrever sobre isso pra exercitar. Adianto que não sou nenhum Reinaldo Azevedo, ou Mário Sabino, ou Diogo Mainardi. Me inspiro nesses caras, e tenho certeza que quando eu crescer nesse meu Jornalismo mar lindo do mundo, vou ser igual a eles. Ou pelo menos tentar, né? Mas vamos logo ao que interessa!

Há alguns dias, a galera do Programa LigAção, que engloba os projetos de extensão UniLivre, Maloca Digital, Comunicadores Populares de Base e Paiol da Comunicação, fez o seu primeiro Seminário LigAção: Comunicação, Meio Ambiente e Cidadania na Amazônia. Logo depois, ia rolar uma mostra de textos, fotos, desenhos e outras coisinhas. Como estávamos perto do Natal, resolvi escrever uma coisinha especial para expor na mostra. Segue abaixo. Espero que gostem!

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A Virgem

Antes de eu contar a minha história pra você, saiba: um médico já a escreveu uma vez. Inclusive até está num livro que ele ajudou a escrever. Mas já que você quer saber, eu vou contar.

Meu nome é Maria. Você deve me conhecer como Nossa Senhora, mas eu não gosto desse título. Afinal, Senhor é só Deus.

Eu vivia na cidade de Nazaré. Meus pais, Joaquim e Ana, haviam me prometido em casamento a um homem chamado José. Embora a maioria das moças não gostasse disso, eu era diferente. Eu gostava mesmo de José. Ele era um bom homem. Eu conhecia a sua família, conhecia o seu trabalho. Sabia que ele já havia sido casado e era pai, e sabia que sua primeira esposa falecera ainda bem jovem, deixando dois filhos para que ele cuidasse. Eu, sinceramente, amava aquele homem. Tinha pena dele por ele viver só. Eu queria muito ser sua companheira. E, ao que parece, ele gostava muito de mim.

Um dia, poucos meses antes do meu casamento com José (santo Deus, será que alguém realmente vai acreditar nisso?) do nada, um homem apareceu na minha frente. (Antes que alguém diga que eu estava desocupada e vendo coisas, eu tinha acabado de buscar um balde de água para lavar as roupas e estava na frente da minha casa, OK?) Percebi que era diferente porque suas roupas não eram como as nossas, sua pele era mais alva que a nossa e sua feição era completamente diferente da de um israelita.

Aí ele falou: “Salve, agraciada! O SENHOR é contigo!”. Deus era comigo? Mas eu já não sabia disso? Aquele homem estava louco. Mas aí ele continuou “Maria, entre todas as mulheres, você foi escolhida por Deus para ser a mãe do Messias”. Aí, meu amigo, eu tremi. Entre todas as mulheres de Israel, EU, Maria, filha de Joaquim e de Ana, da humilde aldeia de Nazaré, tinha sido escolhida pra carregar o Salvador de Israel? COMASCIM, MINHA GENTE?!

Pode parecer loucura, mas eu pensei em um monte de coisas. Tibério César era Imperador de Roma. A Judeia estava sob domínio de Roma. Logo, se o imperador descobrisse que alguém tomaria o trono de Israel, minha família seria caçada e presa por traição contra Roma e César. E o mais importante: eu era virgem, meus queridos! Meu casamento com José seria dali a alguns dias! Eu não poderia simplesmente toma-lo durante o trabalho e ir me deitar com ele! O que seria de mim?! Eu seria escorraçada por José, minha família e por toda a cidade de Nazaré!

No entanto, ao mesmo tempo, me veio uma paz e um grande conforto interior. Afinal, Deus me escolhera para ser a mãe do Messias. Se Deus me escolhera, Ele tinha um plano. E sabe de uma coisa? Eu resolvi confiar em Deus. Mas mesmo assim eu fiquei temerosa. Como eu ficaria grávida se ainda era virgem? E eu perguntei isso do anjo. Ele até me disse o nome dele. Gabriel.

E ele me respondeu que o Espírito Santo viria sobre mim e Deus me cobriria com Sua sombra. OK, eu não entendi o significado destas palavras, mas tudo bem. Mas naquela hora, eu tinha que decidir se eu faria a minha vontade ou a vontade de Deus. Eu tinha que escolher. E eu escolhi. Eu escolhi fazer a vontade de Deus. Eu não tinha nada a perder. Se era de Deus, tinha que dar certo, né? Mas a minha surpresa ainda não estava completa. Gabriel também me disse que a minha prima Isabel estava grávida. De seis meses, ainda!

Aí eu caí pra trás! Isabel, grávida?! Como assim? Desde que eu me lembro, Isabel sempre fora mais velha que eu. Acho que agora ela deveria ter quase 50 anos! E grávida?! Eu não acreditei. Depois que Gabriel foi embora, entrei em casa, comecei a arrumar algumas coisas e no dia seguinte, parti para a casa de Isabel, nas montanhas de Judá.

Quando cheguei a casa de Isabel, ela veio me abraçar! E foi uma alegria só! Mas minha prima estava numa alegria sem igual, até mais do que eu. Perguntei a ela o motivo. Sabe o que ela respondeu? Que quando eu entrei em casa, o bebê dela começou a se mexer no ventre, agitadamente, como se desse louvores e ficasse alegre também. Contei a ela a novidade. E ela disse que foi por isso que o bebê dela se mexeu. Não aguentei. Aquilo era o sinal que eu precisava! Deus seria a minha retaguarda. Ele cuidaria de mim, não importasse o que meus pais ou até mesmo José pensassem de mim. Deus seria o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu socorro bem presente na angústia!

Pouco tempo depois, comecei a sentir enjoos. Lembrei do que o anjo dissera. E fiquei temerosa. Logo depois, a barriga começaria a crescer. E todos em Nazaré diriam que eu não era mais virgem, e que José não mais casaria comigo! Não temia por mim, mas sim por ele! Ele já sofrera demais, e ainda teria que sofrer mais?! Ele não suportaria. Tive que contar a ele o que acontecera. A princípio, ele quis me repudiar. Ficou irritado, mas ao mesmo tempo, triste, porque pensava o que todos pensariam. Disse que no dia seguinte, iria a meu pai para desfazer o compromisso. Supliquei a Deus, mas não temi. Ele seria a minha retaguarda e o meu amparo, meu escudo e proteção. E naquela noite, o anjo Gabriel apareceu a José, dizendo que não me devolvesse a Joaquim, mas que me tomasse por esposa, pois eu estava grávida do Filho de Deus.

No dia seguinte, José veio conversar comigo. Disse o que acontecera. E que acreditava em mim. E disse que me daria todo o apoio possível. E que se casaria comigo, já dali a alguns dias! Quase chorei de tanta alegria! Era muita emoção para um só coração, minha gente!

Casamos. E você já deve conhecer o restante da história. Minha barriga virou um barrigão, Tibério ordenou o censo do Império, tive que ir para Belém grávida, já sentindo algumas dores do parto, e em Belém, meu Filho (aliás, meu não! De Deus!), meu pequeno Jesus, nasceu. Moramos alguns anos no Egito e depois voltamos para Nazaré. Vi meu pequeno crescer e se tornar um homem, até assumir o seu papel: o de Salvador do mundo. Eu O vi morrer numa cruz, condenado pelos pecados de todo o mundo, e eu O vi quando Ele ressuscitou e subiu aos Céus! Quão maravilhoso foi para mim saber que o Filho que Deus me deu para criar era o Seu próprio Unigênito!

Quando me lembro de tudo isso, penso: eu poderia não ter escolhido ser mãe? Poderia continuar sendo uma moça em que ninguém via nada? Sim, poderia. Mas eu quis ser mãe. E, que maravilha!, ser a mãe do próprio Filho de Deus, prometido há muito tempo atrás a Adão! Sim, eu me orgulho de ter escolhido ser usada por Deus para o seu serviço. Não me arrependo de nada. E como eu disse, Deus foi e sempre será a minha retaguarda.