Tem um certo tempo que eu tô querendo escrever sobre isso. Volto a repetir: se ao longo desse texto você se sentir magoadinho, a porta da rua é serventia da casa. Clique no "X", feche a janela ou a aba e seja feliz.
(Livremente inspirado no mais recente texto da socialista mais talentosa em escrita poética dessa Manaus, a caloura Ana Luiza Santos, dona do Cotidiano Escrito. Inclusive, se você gosta de Marcelo Camelo e Los Hermanos, vá lá.)
"Mulher, só sei que sem alma, vou baixinho à calma, e aos teus pés eu fico a implorar! O teu amor tem um gosto amargo, e eu fico sempre a chorar desta dor por teu amor, por teu amor, mulher!" Emílio Santiago.
Quero escrever esse texto direcionado a você, que segundo a Bíblia, foi feita por Deus da costela do homem. Sim, é com você mesmo, que em algum momento da vida, durante nove meses, carregará um curumim no ventre e orará e cuidará dele até o dia em que não puder mais. Sim, é com você, mulher. Mas não é pra mulher que fica em casa, submissa ao marido. É pra você que estuda, trabalha, faz estágio, é independente, parece o Juninho Pernambucano comentando sobre futebol, a Cristiana Lobo falando sobre política e o Carlos Alberto Sardenberg falando sobre economia. É capaz de falar sem pestanejar a escalação do Flamengo no jogo contra o Botafogo, criticar o Pôjeto porque ele escalou Arthur ao invés do Peléverton e o Recife ao invés do glorioso Cáceres, e ainda especular sobre a subida do preço das ações na Bovespa em uma possível vitória do Aécio Neves no segundo turno. E que juntando isso tudo, ainda consegue ser estonteante e de uma rara beleza, sem maquiagem.
Imagine que você, durante um passeio pela Ponta Negra ou numa mesa do Armando ou ainda num passeio pelo Shopping Ponta Negra, esbarra num cara. Os olhares de vocês se cruzam e vocês se olham por um bom tempo. Um pergunta o nome do outro, pedem WhatsApp e começam a conversar (utópico, não?). Conversa vai, conversa vem, vocês decidem marcar um encontro no Touchdown pra assistir um jogo da NFL, gosto que vocês tem em comum. Você meio com o pé atrás, decide aceitar o convite dele.
No dia, você chega um pouco mais cedo do trabalho, toma um bom banho, passa só uma chapa no cabelo, pouca maquiagem, coloca um vestido e voilà! Está linda! Ele te busca em casa e #partiu Touchdown. Entram, assistem o jogo, comem e etc. Na hora de pedir a conta, ele paga. Como uma boa moça independente, você insiste para pagar, mas ele é cavalheiro, não aceita a sugestão e paga tudo. OK. Na saída, um meliante aborda vocês. Arma na mão, a voz gritando "passa grana e celular ou morre!"
Das duas, uma: 1) o cara incorpora o espírito do Super-Homem e do Homem-Aranha, parte pra cima do meliante, arranca a arma da mão dele e imobiliza-o. Nesse meio tempo, você já chamou a Polícia, que chegará em 5 minutos. Ou 2) o cara incorpora o espírito da princesinha indefesa, sai gritando e correndo feito uma moça, você fica pra trás sem celular e sem dinheiro. Com um pouco de sorte, fica o dinheiro do 215. Pergunto: qual das duas opções prefere? Nessas horas, o feminismo vai embora e você prefere a primeira, com absoluta certeza.
Meliante devidamente preso e encaminhado à Vidal Pessoa, o rapaz, como um bom cavalheiro, te deixa na sua casa que fica ali no Campos Elíseos, enquanto ele mora num condomínio na Raiz. Por aí, cê tira que ele já quer algo a mais. Antes de sair do carro, vocês marcam outra saída. Dessa vez, pra Ponta Negra, para respirar um pouco de ar fresco de noite. Duas semanas depois, você está pronta, e ele se atrasa por 10 minutos, já que o engarrafamento na Constantino Nery e na Estrada dos Franceses está horrível. Ele te busca e #partiu Ponta Negra. Seu coração já tá batendo mais forte por ele.
Lá na Ponta Negra, vocês passeiam, tomam um açaí na Waku Sese ou um sorvete na Glacial, tiram algumas fotos no Anfiteatro e pronto. Fica tarde, e ele vai te deixar em casa, não sem antes te roubar um beijo. Você fica nas nuvens, aguardando o próximo encontro. E não para de olhar o WhatsApp com o contato dele e até as fotos que vocês tiraram na Ponta Negra.
Dia seguinte, você acorda pra ir pra UFAM (você estuda Jornalismo e estagia no G1) e resolve lanchar na Faculdade de Direito. E se surpreende quando o vê numa das mesas com uma outra moça, e com uma certa intimidade. Cê volta pra sala, chora no caminho, e fica mais calma. Das duas, uma: 1) ou você resolve dar o troco, ficando com outro cara; 2) ou você não se rebaixa ao nível dele, chora mais um pouquinho e esquece.
"Ah, mas ele vai ter o que merece! Ah, se vai! Ele vai ver o que é bom pra tosse!"
Moça, na boa, remédio bom pra tosse, segundo os médicos que me atendiam no hospital, é Ambroxol. Pra crianças, Brondilat. E segundo minha mãe, é mel de abelha. Fica a pergunta: você precisa ser mesmo igual ao cara? Ele não foi fiel a você, verdade. Mas você precisa mesmo ser igual a ele? Mostre que você está por cima de outra forma, porque dessa não vai colar. A opinião dele sobre você vai mudar radicalmente. E mesmo que você não se importe nem um pouco com isso, vai pegar mal pra você, infelizmente.
Agora, voltando à história, mas com outro cenário. Você chega na cantina da FD e encontra o rapaz. Sozinho. Você pega seu lanche e senta com ele. Sem graça, tentam puxar assunto um com o outro. Por fim, resolvem falar sobre a noite passada. Blá blá blá vai, blá blá blá vem, vocês resolvem namorar. Pronto.
Tudo é paz, tudo é amor, várias fotos no Facebook, textos com 15 linhas no Instagram finalizando com as hashtags #meubem #amovocê #éprasempre resume o namoro de vocês. Até que, num certo dia, chegando no hall da FIC, você dá de cara com ele, de mãos dadas com uma moça. Pelas feições, você deduz que ela é da FES e faz Administração. Chega, surpreende, os dois gaguejam, e você arma um certo barraco em pleno hall da FIC, com os seguranças e até o diretor da faculdade tendo que apartar a briga. Nem em condições de assistir aquela aula de Política de Comunicação no Brasil e fazer a prova você está. Volta pro estacionamento, entra no carro e vai pra casa, andando pela estrada do Campus bem tranquila, na velocidade de 80 km/h. Em casa, corre pro seu quarto e chora copiosamente. Toma uma decisão.
"Não vou ser igual a ele. Homem pra mim acabou. Nenhum mais presta."
OK. Beleza. Aí você se fecha ainda mais. Uma desilusão fecha o seu coração completamente. Apaga as fotos (mas deixa só umazinha que é pra lembrar dele nas noites frias e calorentas de Manaus), deleta o histórico do Instagram, muda o status de relacionamento no Facebook de "em um relacionamento sério" para "solteira" e fala no Twitter "homens não prestam". Com o tempo, mais rancor chega, e você decide se fechar completamente. Não quer mais saber de nenhum homem, as mulheres são injustiçadas sempre, vivemos numa sociedade machista e patriarcal, onde todas as mulheres são oprimidas e devem lutar para que não sejam mais. Segundo você, os homens devem ser subjugados. Lamento dizer, moça, mas a senhora está assumindo uma postura de sexista, e não de feminista.
Segundo a minha amiga Ana Luiza (socialista, gente, mas nem por isso deixo de gostar dela, embora eu brigue com ela porque ela é #Dilmãe e eu sou #Aécio45 no presente momento. uma das raras pessoas com um pensamento esclarecido sobre questões de feminismo), há uma certa diferença. Se você quer subjugar a raça masculina, dizendo que eles são escória e devem ser escravizados, você é sexista. Se você adota uma postura diferente, vê o homem em pé de igualdade com você, dá a ele o devido respeito que todo ser humano merece, você está sendo feminista. E é nesse tipo de feminismo que eu acredito.
"Ô seu fidumaégua, onde é que entra a fidelidade aí, já que tu só falou de igualdade e feminismo?"
Muito simples, minha cara. O rapaz lhe traiu. Desonrou um compromisso que vocês assumiram. Com isso, você se vê desobrigada de continuar o compromisso com ele. É como um contrato. Se uma das partes quebra, paga multa pra outra. E no caso, a multa que ele pagou foi não ter mais uma mulher linda, estudiosa, batalhadora e honesta ao lado dele pra fazê-lo feliz. Mas você, como tem muito respeito, não vai se rebaixar ao nível dele. Vai honrar a sua parte. Não vai mais ficar com ele, mas também não vai dar o troco nele, embora este desgraçado mereça e muito um belo par de chifres. Mas pensa bem: quando um não quer, dois não brigam.
Embora ele tenha feito o que fez, não lhe cabe desrespeitá-lo também. Ponha um ponto final. Seja fiel. Você não prometeu ser fiel a ele. Prometeu ser fiel ao compromisso que vocês assumiram. E um dos termos dele é que caso um dos dois falhasse, o outro seria fiel e quebraria esse compromisso por respeito aos dois. Pronto. Aí ele vai reconhecer que você realmente é uma mulher de valor.
"Lucas, tá. Você colocou um ponto de vista aqui que até dá pra refletir. Achei meio merda e meio tosco, mas vou aceitar. Agora, você generalizou quando disse que o sexismo é causado por falta de fidelidade, e isso não foi legal."
Se generalizei, foi mal. Mas se você fizer uma certa pesquisa, você pode descobrir que boa parte das mulheres que se dizem feministas, mas que são sexistas, na verdade, passaram por algum tipo de desilusão ou trauma emocional no passado. Isso é grave, e traz sérias consequências. Um caso de pedofilia, um abuso sexual, uma seríssima desilusão amorosa que até trouxe uma depressão, e coisas do tipo. Isso é bem complicado, e pode ser superado com uma boa ajuda psicológica e mais do que isso, com a própria ajuda que vem de si mesmo. Além da ajuda do próprio Deus, é claro.
RESUMINDO A ÓPERA: pra quê ter rancor no coração se você pode ser feliz? Seja fiel às cláusulas imaginárias do compromisso e deixa o cara! Claro, sempre respeitando ele como pessoa, e deixando bem claro os limites um do outro. Assim, você vai ser uma verdadeira feminista, isto é, respeitar o outro sem reservas, sem ressentimento algum. Não o respeito forçado, mas o respeito conquistado, que, venhamos e convenhamos, é muito melhor que o forçado. E aí você vai conseguir de verdade ser superior ao outro em caráter e mentalidade.
Lucas Vítor Sena
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