quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Porque não voto em Dilma Rousseff

Antes de mais nada, digo: esse é um blog de opinião. Aqui, eu expresso as minhas opiniões, doa a quem doer. Respeito opiniões contrárias, mas aceitá-las, como diz minha socialista favorita Ana Luiza Santos, #nãosouobrigado.

Perdoem-me se vocês lerem palavrões neste post. É preciso inseri-los, já que sem eles, não terá a mesma emoção e graça que com eles.

Meu avô se chamava Francisco das Chagas Rodrigues. Era comerciante, viajando pelo Nordeste pra comprar e vender mercadorias, mas morava no Maranhão. Teve três filhos, cada um em uma cidade diferente do Estado: Vera Lúcia (mamãe), em Caxias; Francisco de Assis, em Pindaré Mirim; e Daniel, em Bom Jardim. Minha avó faleceu em 1971, dois anos depois do nascimento do tio Daniel. Os quatro vieram pra Manaus em 1976, pra melhorar a vida.

Tio Assis, em 1978, mais ou menos, entrou na antiga Escola Técnica Federal do Amazonas (ETFAM), hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM), no curso de Eletrônica. Lá, começou a se encantar pela política. Conheceu um rapaz por nome Vicente Mubarac, que, à época, militava na Liga Árabe do Brasil. Por Mubarac, foi apresentado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no Amazonas. Se juntou ao partido e em dado momento, foi eleito Secretário de Massas do partido. O Brasil, à época, passava pelo Regime Militar instaurado em 1964, sob comando do General Ernesto Geisel. Logo depois, o General João Figueiredo assumiria a Presidência da República, e assim, daria início à redemocratização no país.

Tio Assis, assim, começou a militar no partido. Conheceu Vanessa Grazziotin, Eron Bezerra, Arthur Virgílio Neto, Eloy Menezes (pai), Sandro e Selma Baçal, Fábio Lucena, e tantas outras figuras. E por militar no Partido, começou a ser perseguido pela Polícia. Ele, no entanto, era calmo. Sempre foi calmo. Seu codinome, segundo Mubarac, era Tim, em referência ao bom e velho Tim Maia, de cujas músicas ele sempre gostou. Seu cabelo, à época, era aquele black power que fazia um sucesso tremendo. Um gordão gentil, que vivia com um sorrisão no rosto.

Lembro-me de uma vez que me contou que pulara do último andar do prédio da Escola Estadual Ângelo Ramazzotti, em Adrianópolis, junto com tio Eloy e mais uns outros. De lá, foram correndo para a sede da UESA, na Avenida Epaminondas, no Centro. Ele não me contou o trajeto, uma vez que é difícil lembrar de algo quando a polícia está no seu encalço. No entanto, posso imaginar que seu trajeto tenha sido Belo Horizonte-Boulevard-Ramos Ferreira-Leonardo Malcher-Epaminondas. Mamãe também me contou de uma vez em que ele pulou os muros da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), e invadiu o prédio, na Praça 14, com alguns amigos, em protesto. Deu polícia na área, ele foi preso, mas solto logo depois.

Meu tio também fazia parte do movimento estudantil, como já falei. Foi da UESA. Consequentemente, ligado à UBES. Nunca foi da UNE. Foi com o seu pioneirismo e de mais pessoas que hoje os estudantes têm direitos garantidos, como a meia-passagem e meia-entrada. Isso é algo para ser respeitado. Ele viveu numa época em que ser livre não era fácil. E eu sempre o tive como meu herói por causa disso, porque ele sempre lutou por liberdade e justiça. Sem levantar bandeira de partido, sem usar de Filosofia, sem nada. Mais importante ainda: sem usar de violência e sem difamar ninguém. Seu único anseio era por liberdade e justiça. Ele queria deixar uma herança boa e uma terra melhor para seus filhos, sobrinhos e netos.

Em 1981, meu primo Emerson nasceu. Com isso, ele deixou o movimento e montou sua oficina de eletrônica na Cachoeirinha. Minha prima Helen nasceu em 1982, e em 1987, meu primo Ellipeterson veio ao mundo. Poucos anos depois, tio Assis e a família se mudaram pra Boa Vista, pra começar a vida lá. Montou uma locadora de vídeo, a Hobby Vídeo, uma das primeiras de lá. Entre seus primeiros clientes, ele se orgulhava de ter o atual senador da República Romero Jucá, e sua esposa, atualmente não mais, dona Teresa Surita, hoje prefeita de Boa Vista. Ottomar de Sousa Pinto, ex-governador de Roraima, já falecido, foi um de seus clientes, salvo engano.

Mas por quais cargas d'água estou contando a história dele? Simples.

Meu tio, quando Dilma Rousseff foi eleita, se orgulhava de ter dito que não votou nela. Quando amadureci mais, perguntei a razão. Sabe o que ele respondeu? "Eu não voto em terrorista e assaltante de casa de governador. Essa mulher, meu filho, assaltou a casa do governador Adhemar de Barros! Sabe-se lá o que ela pode fazer com o país!"

Sempre soube que seus votos iriam para duas pessoas: Romero Jucá e Anchieta Júnior. Na última conversa que tive com ele, três dias depois de retornar de Foz do Iguaçu, perguntei a ele em quem ele votaria. Sabem o que ele respondeu? "Em qualquer um que tenha coragem de se opor à essa filha da puta chamada Dilma Rousseff!". Sorri, e lhe disse que Marina Silva estava à frente nas pesquisas. Ele disse: "Meu filho, o Aécio vai passar da Marina e vai pro segundo turno com a Dilma. E quando eu sair desse leito, eu vou votar no Aécio. Mas naquela terrorista, eu não deposito meu voto!"

Infelizmente, meu tio não teve tempo pra se levantar do leito 354 do Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto e votar em Aécio Neves. Faleceu antes, no dia 14 de setembro, em decorrência de trombose, choque séptico e diabetes. Foi o pior presente de aniversário que eu recebi. No dia 16, vasculhei minha timeline em busca de uma mensagem sua de feliz aniversário. Foi quando caiu a ficha. E doeu demais. Eu não era mais o mesmo. Ninguém mais ia cantar pra mim as músicas de Chico da Silva e me mandar adivinhar. Eu não ia mais cantar Morena Tropicana, de Alceu Valença, ou Meu Amigo Charlie Brown, de Benito di Paula (inclusive, ele me contou que Benito di Paula é o mestre do samba no piano) junto com ele, com um largo sorriso e fazendo uma segunda voz. Eu não cantaria mais Porto Solidão para ele continuar junto comigo. Eu não teria mais o meu mestre da MPB, que cantaria Caetano Veloso, Edu Lobo, Chico Buarque, Gal Costa, Nana Caymmi e Maria Bethânia comigo. Eu tinha perdido o meu modelo de pai.

Quando o dia terminou, eu fiz uma promessa para mim mesmo. Eu prometi para mim que honraria sua vontade. Prometi pra mim que eu faria o que ele não fez. Prometi pra mim que votaria em Aécio Neves para Presidente da República. Eu já votaria no neto de Tancredo, por várias razões. Mas a vontade de meu tio e o fato de ele não ter tido tempo de executá-la me deu ainda mais forças para ajudar a tirar o PT do poder.

É porque eu quero um país melhor que vou votar em Aécio Neves. É porque eu quero mais liberdade, mais justiça e mais democracia que eu vou votar em Aécio Neves. Mas acima de tudo, votarei no neto do Dr. Tancredo Neves para honrar a memória do meu tio, meu velho, meu amigo. E quando eu o vir novamente na manhã de luz, muito além do Sol, quero que ele saiba disso. Sei que ele vai ficar feliz, embora nossas atenções estejam sempre voltadas para o Deus que nos remiu na cruz.

Torcedor roxo do Botafogo, lembro-me de uma vez em 2013 em que eu, meu irmão e minha cunhada assistíamos ao clássico Flamengo x Botafogo junto com ele, aqui em casa. Nós com a camisa do Flamengo, ele com a camisa do Botafogo, especial, que ganhara do genro Rodrigo. No primeiro gol do Flamengo, comemoramos na cara dele. Ele falou "É? Beleza. Bora ver quem ri por último". Dito e feito. Botafogo fez dois gols no Flamengo. Em cada gol, ele gritava "PEGA, FILHA DA PUTA!", e dançava na nossa cara. Aliás, "filha da puta", tanto se referindo a homem quanto a mulher, foi um palavrão que nunca saiu do seu vocabulário pessoal. Nunca nos importamos com isso.

Abaixo, minha última foto com tio Assis, de quem sentirei e sinto muitas saudades até o dia em que ele ressuscitar. A careta foi proposital mesmo. Ele nunca foi de formalidades. Ele sempre conservou o sorrisão. E é desse sorriso que eu vou me lembrar pra sempre, até o dia em que eu o vir sorrindo novamente, vendo o nosso Cristo e recebendo a coroa dos salvos.


 Lucas Vítor Sena

2 comentários:

  1. Obrigado, mano! Muito obrigado por esta linda homenagem! Está lindo, realmente lindo.

    Eu me emocionei muito.

    Um grande beijo!

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  2. Lucas que linda homenagem estou feliz e em lágrimas de saudades, amo esse amor que se foi tão cedo e nos faz muita falta!!!

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