sábado, 11 de outubro de 2014

Porque a República vai cair. Ou: O sistema ideal para o Brasil

Em época de eleição, tanto regional quanto presidencial, é sempre a mesma coisa. De um lado, o PT. Do outro, o PSDB ou outro partido coligado. Acaba ganhando um desses dois, e não alguém que represente de verdade uma mudança para o país. Em 1993, o Brasil teve a chance de escolher entre três formas de governo: a república presidencialista, a república parlamentarista, e a monarquia parlamentarista. Nossos pais e tios, naquela época, preferiram a república presidencialista, e hoje nós colhemos os resultados disso. Com toda a franqueza, digo: o Brasil fez uma péssima escolha.

Todos devem ter estudado na escola a história do Brasil, que em 1889, o nobre Marechal Deodoro da Fonseca destituiu o tirano Imperador D. Pedro II e proclamou a república e a liberdade. Afirmo, com toda a sinceridade, que isso é história pra boi dormir. É balela. Nada mais do que isso. Explico a razão.

Em idos dos anos 1880, o Brasil vivia um tempo de progresso. As leis contra escravidão já vinham sendo aprovadas desde o final dos anos 1860. O Brasil, naquela época, era considerado um país de primeiro mundo, e Sua Majestade, o Imperador Pedro II, gozava de prestígio sem igual entre os brasileiros e era sempre escolhido como árbitro de várias questões mundiais. Para se ter uma noção do respeito que se tinha pela figura de Pedro II, em 1876, quando este visitou os Estados Unidos da América, em tempo de eleições presidenciais, chegou a receber quatro mil votos!

O Império do Brasil era considerado, nos anos 1870, como um país que hoje seria chamado de primeiro mundo. Tínhamos a Real Academia Militar de Fortificação e Desenho, que hoje é o Instituto Militar de Engenharia do Exército Brasileiro, uma das primeiras em todo o mundo e a primeira do Brasil na área da Engenharia; o Imperial Instituto para Meninos Cegos, dirigido pelo professor Benjamin Constant, que hoje é o Instituto Benjamin Constant, referência na área de educação para deficientes visuais;,o Imperial Colégio Pedro II, que deu origem ao Colégio Pedro II, tradicional do Rio de Janeiro e que originou os vários Colégios Militares; e etc. No Amazonas, o Gymnasio Amazonnense Pedro II, hoje Colégio Amazonense D. Pedro II, e o Instituto de Educação do Amazonas, foram fundados em 1884 e 1880, respectivamente, pelo próprio Imperador ou um representante seu.

No campo da integração nacional, o Brasil possuía mais de 5000 km em estradas de ferro, que faziam ligação tanto entre cidades quanto ligação entre as cidades e os principais portos do país, como Paranaguá e Santos. Nas Forças Armadas, Mar e Terra estavam bem avançados. Tínhamos estrangeiros e oficiais brasileiros treinados em Portugal, França e até mesmo na Escola Militar da Praia Vermelha, que originou a Academia Militar das Agulhas Negras. Nossa Marinha de Guerra era uma das mais avançadas em todo o mundo, perdendo apenas para a Marinha da Inglaterra. Tanto é que durante a época da Questão Christie, o Brasil não se acovardou, e Pedro II mandou dizer à Rainha Vitória (em termos atuais): "se Vossa Majestade quer brigar, pode vir. só não reclame depois".

O Imperador Pedro II prezava pela educação. Tanto que era homem letrado, versado em várias línguas e ciências. Falava inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, latim e até o provençal. Sabia matemática, astronomia, política, geografia, Direito, entre outros. Patrono das artes e das ciências, financiou várias expedições científicas europeias que vinham fazer estudos no Brasil. Também pagava com o seu soldo (que nunca aumentou, em 59 anos de reinado) os estudos de jovens na Universidade de Coimbra e até mesmo as despesas de jovens músicos que iam estudar na Europa, sem pedir nada em troca. Graham Bell foi um destes, depois que o imperador assistiu a uma demonstração de funcionamento do telefone, na Exposição Internacional da Filadélfia, em 1876. Vale lembrar que o imperador foi o primeiro que testou o telefone publicamente. Villa-Lobos, compositor de "O Guarani", foi também um dos que tiveram seus estudos pagos pelo Imperador. A maestrina Chiquinha Gonzaga, embora fosse contra o sistema monárquico, era mais que admirada por Pedro II, trazendo um tom mais brasileiro às polcas e valsas originárias da Europa. Foi daí que surgiu o maxixe e o samba, tudo no piano.

Engana-se quem pensa que a Família Imperial era escravista. Pedro I, em carta a um de seus conselheiros, logo após o lançamento da Constituição de 1824, disse que era um desejo seu a libertação de todos os escravos. No Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista, Pedro II sempre abrigou escravos, dando-lhes a carta de alforria em todas as vezes que estes eram descobertos. Conta-se que certa vez, quando o Imperador estava fora do Brasil e Isabel era a Regente Imperial, foram alforriados mais de 50 escravos que haviam se escondido na Quinta da Boa Vista. André Rebouças, amigo pessoal de Pedro II, era negro, e tornou-se engenheiro, sempre sob a proteção do Imperador. O apreço que os negros tinham pela Princesa Isabel era tamanho que eles mesmos formaram a Guarda Negra, que protegia a Princesa e a Família Imperial.

Em 1888, a Princesa, pelo seu dever, assinou a Lei Áurea. Logo depois da assinatura, o Barão de Cotegipe lhe proferiu em tom profético: "Vossa Alteza Imperial libertou uma raça, mas perdeu um trono!" A princesa, calma e serena, mas confiante, lhe respondeu: "Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os negros do Brasil". O Imperador, que estava se tratando de grave doença em Milão, enviou nota à Isabel parabenizando-a pela sábia decisão, e até o Papa enviou-lhe a Rosa de Ouro, em agradecimento pelos préstimos à raça humana. Inclusive, não era segredo para ninguém que Isabel tinha o desejo de libertar mais ainda os negros, provendo-lhes auxílio do Banco Imperial a partir do ano de 1890, a fim de que eles se estabilizassem economicamente mais rápido. A Princesa, muito à frente de seu tempo, ainda provou ser uma pioneira, querendo dar às brasileiras o direito de votar. Mas tudo mudou.

A Proclamação da República foi um golpe militar, orquestrado por Benjamin Constant e mais algumas pessoas do Partido Republicano. Deodoro nem estava no meio ainda. Entrou na briga quando descobriu que um antigo desafeto seu, o gaúcho Gaspar da Silveira Martins, poderia assumir a Presidência do Conselho de Ministros a partir de dezembro de 1889 em lugar do Visconde de Ouro Preto, a pedido do Imperador. Vale lembrar que em 1883, os dois disputavam a Presidência do Rio Grande do Sul e o amor da Baronesa de Triunfo, Maria Adelaide Medeiros. Silveira Martins ficou com o Rio Grande e Adelaide. E Deodoro ficou bem chateado, pra não dizer puto.

"Então quer dizer que quem acabou com a Monarquia foi uma mulher?" Sim. Tem dúvida? Recorra a Laurentino Gomes, no livro 1889. À época do Golpe, Deodoro estava doente, assinando a declaração de independência na cama. Constant e outras lideranças se incumbiram de tratar do resto.

Deodoro foi tão desonesto que mandou um mensageiro, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, dizer ao Imperador que este tinha menos de 24 horas para deixar o Rio de Janeiro e o Brasil. Sua Majestade tinha acabado de descer de Petrópolis, já tinha ciência da proclamação e não faria oposição, embora Ouro Preto, o Conde D'Eu e tantos outros insistissem em organizar a resistência. Deixaria o Rio de Janeiro na tarde do dia 17 de novembro. Mas houve tamanha desonestidade por parte das lideranças republicanas que a Família Imperial - que tinha um imperador e uma imperatriz já idosos, além da Princesa Isabel e do Conde D'Eu, seus filhos e todos os outros agregados - foram obrigados a deixar o Rio de Janeiro na madrugada do dia 16 para o dia 17 - na calada da noite, como fugitivos - em direção a Lisboa e depois a Paris. A imperatriz Teresa Cristina faleceu em Paris, apenas três semanas depois de chegar à Europa. Pedro II morreu num hotel em Paris em 1891, sendo enterrado no Panteão dos Braganças, túmulo de sua família, a Real Portuguesa, na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa. Em 1922, os restos da Imperatriz Teresa Cristina e do Imperador Pedro II foram trasladados para o Brasil. Na ocasião, foi proclamado feriado nacional, e por onde passava o esquife dos imperadores, era ovacionado. Foi sepultado no Mausoléu Imperial, na Catedral de Petrópolis, onde está até hoje.

Depois da Proclamação, o Brasil mergulhou num período ditatorial. Instituiu-se a famigerada República da Espada, chefiada pelos Marechais Deodoro e Floriano Peixoto, este último tão cruel quanto um chefe do Primeiro Comando da Capital ou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Em Nossa Senhora do Desterro, capital de Santa Catarina, Peixoto mandou matar com requinte de crueldade todos os que lhe eram opositores e eram a favor da volta do Imperador. Logo depois, a cidade mudou de nome. De Nossa Senhora do Desterro, passou a se chamar Florianópolis. Pois é. Além, claro, da Guerra de Canudos, que massacrou homens, mulheres e até crianças.

Depois de eu ter feito você ler tudo isso, você deve estar se perguntando: "Tá, e daí? Pedro II morreu, Deodoro assumiu, e aí? O que isso tem a ver com as eleições?"

Simples. Por causa de Deodoro, nós vivemos nessa maldita dicotomia entre escolher o menos pior e um ligado ao Foro de São Paulo (posso falar disso noutro post). Depois da Proclamação da República, em pouco mais de 120 anos, tivemos (vamos contar?) três ditaduras, SEIS (1891, 1934, 1937, 1946, 1967, 1988) Constituições, e algumas vergonhas das quais não devemos nos orgulhar, como apoiar nazistas, fechar jornais, censurar a imprensa, cassar liberdades individuais, e por aí vai.

"Ah, mas eu não vou pagar meus impostos pra sustentar uma Família Imperial composta de vagabundos!"

Amigo, lamento te dizer, mas você sustenta as famílias de Fernando "Corda de Merda" Collor de Mello, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Até pouco tempo atrás, sustentava também a de Itamar Franco. Então não vem com essa de que "vou sustentar uma família de vagabundos". Você já sustenta cinco vagabundos com os seus impostos.

"Ô seu filho de uma égua, você sabe o quanto custa sustentar uma monarquia?"

Faz o seguinte? Compara os gastos que o Reino Unido tem com a Família Real. Aí depois você compara os gastos que a República Portuguesa tem com Cavaco Silva. E depois, compara com os gastos que o Brasil tem com a Dilma Rousseff. Um Imperador é educado desde a tenra infância para gerir uma nação um dia. Uma criatura dessas não vai, em sã consciência, afundar o país. Tudo o que ele puder fazer de melhor para o desenvolvimento do país, ele vai fazer. Só um exemplo rápido: Elizabeth II, rainha da Inglaterra, subiu ao trono oficialmente em 1953. Teve como primeiros-ministros Winston Churchill, Margaret Thatcher, baronesa Thatcher de Kesteven, Tony Blair e David Cameron. Nomes competentíssimos, que em situações de crise, ajudaram a Rainha a sustentar o país. Hoje, a Rainha tem mais da metade da aprovação do povo. Querem adotar um sistema republicano? Pouquíssimos.

Pra terminar, deixo com vocês um pensamento do Visconde de Ouro Preto, publicado no livro Advento da Ditadura Militar no Brasil:

"O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século, manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três povos vizinhos deveram o desaparecimento do despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem, segurança e, mais que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país algum. Quais as faltas ou crimes de Dom Pedro II, que em quase cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros praticados que o tornou merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A república brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A república se levantou sobre os broquéis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na história e terá uma existência efêmera!"

As palavras de Ouro Preto já estão se cumprindo. A República, depois de vários escândalos de corrupção, tanto do PSDB e seus coligados quanto do PT e seus coligados, está com os seus dias contados.

#MonarquiaJá.

Lucas Vítor Sena

Um comentário:

  1. Quanto a informação do Colégio Amazonense Dom Pedro II em Manaus/AM, quero informar a data da criação desse colégio, pois a data acima descrita não procede.
    A data correta é 18/03/1869-Lyceu Provincial Amazonense. Com a instauração de república o seu nome muda para Gymnasio, Gymnasio Amazonense e Gymnasio Amazonense Pedro II em comemoração aos 100 anos do aniversário de nascimento de Dom Pero II - 02/12/1925.

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